As vantagens de aprender alemão - em alemão!
Diferentes perspectivas sobre como aprender a falar alemão
É senso comum entre os interessados por atingir a fluência em uma língua estrangeira a crença de que nada tão eficaz para aprendê-la do que uma experiência internacional extensa em um país no qual a língua materna seja justamente ela. E a razão para isso faz muito sentido, mas nem sempre isso se concretiza.
Há vários estudos sobre a aquisição de uma segunda língua, e a intenção desse artigo não é exaurir o assunto ou prevalecer sobre as diversas teses existentes, mas sim, trazer diferentes perspectivas sobre como aprender a falar alemão, e qual a forma de estudo que mais se adequa ao aspirante a um projeto de vida tão grande quanto se mudar para a Alemanha.
Um dos motivos para que o aprendizado se dificulte é porque é extremamente frustrante tentar se comunicar e não conseguir transmitir a mensagem ou realizar tarefas que em nossa língua são de simples realização. E é natural da mente humana escolher o caminho mais fácil para alcançar seus objetivos, inclusive na comunicação. Portanto, quando vamos a um outro país é muito comum a brasileiros se cercarem por outros brasileiros, ou preferirem frequentar lugares juntos, para terem a segurança de não se sentirem sempre nesse impasse e serem compreendidos pelo menos entre si em algum nível de contexto de interação social. Isso é uma situação muito comum, e não há nada de errado com isso. Afinal, quem nunca chegou ao ponto de se sentir saturado com tanto estudo, como se nada mais pudesse entrar na sua cabeça?
Como humanos só podemos lidar com um determinado nível de estresse sem que a nossa capacidade de aprendizado seja afetada, e a curva de absorção e retenção de novas estruturas e vocabulário comece a diminuir. Nesse momento é muito bom fazer pausas, e o quê melhor para um alívio momentâneo do que conversar com um colega ou amigo que fale sua própria língua? O importante é saber espaçar a quantidade e duração dessas pausas. Não adianta nada ir para a Alemanha aprender alemão se você ficar o tempo todo sem exposição à língua e somente falar inglês ou português. Mas também é importante se respeitar e saber quando chegou ao seu limite de aprendizado e dosar essa exposição de modo equilibrado.
Outra razão para ser difícil aprender uma língua como o alemão é porque muitas vezes nos sentimos como se estivéssemos partindo da estaca zero, sem saber nada previamente. Diferentemente da língua inglesa, que crescemos habituados a ver em propagandas, jogos de videogame, internet etc.; vemos pouco ou nada do alemão ao longo da vida. Mas você se surpreenderia ao saber a quantidade de palavras de origem latina (a mesma do português) do alemão. Palavras como organisieren, Frequenz, offiziell, Universität e Hubschrauber são de fácil intuição porque parecem com o português. Tá bom, você me pegou… Hubschrauber não entra nessa lista porque nem de origem latina é. Mas o fato é que você já tem uma base bem maior de conhecimento do alemão do que poderia imaginar!
Para as pessoas que já falam inglês, o pontapé inicial também já é uma bela ajuda. O inglês e alemão têm a mesma origem germânica, e muitas palavras do inglês são parecidas também com o alemão. Hound (cão), do inglês, parece com Hund do alemão; God (Deus) se assemelha a Gott; e Man (homem) parece com Mann. Isso torna muito mais simples de estabelecer paralelismos entre as duas línguas e fazer pontes que tornam possível a compreensão de frases e mais rápido o aprendizado da língua.
Fazemos automaticamente essas aproximações. Não raro esse mecanismo entra em ação durante a fala e o falante iniciante no alemão começa a misturar o português ou o inglês no meio da frase, ou fazer aquelas famosas “embromations”, que nada mais são do que a tentativa que seu cérebro faz de verificar se a palavra numa língua já conhecida funciona na nova língua desconhecida, com base na observação feita de que já há outras palavras semelhantes entre as ambas. A mente humana é incrível, não?! Isso não é feio de se fazer, é só uma forma de aprendizado tão válida quanto outras.
De uma certa forma, o cérebro funciona muito similarmente a um músculo. Quando vamos à academia é necessário um certo nível de estímulo ao tríceps, por exemplo, para que haja algum resultado perceptível mínimo. Ora, as repetições nos cursos de idiomas são justamente esse estímulo, afinal, aquilo que se encontra no material base não à toa são chamados de “exercícios”. Mas veja bem, não é só repetir o que é dito pelo instrutor como um papagaio amestrado, que não vai surtir efeito algum, ou quase nulo. Seria como fazer flexões de braço com os seus joelhos apoiados no chão: não há nenhum esforço criativo envolvido. O componente chave para completar essa equação da apreensão da língua-alvo é a contextualização. Em outras palavras, incorporar itens de vocabulário, expressões e estruturas novas de forma ativa, seja produzindo frases escritas por conta própria, ou falando uma sentença inédita com esse item de idioma novo. Dessa forma se estará internalizando o aprendizado de forma mais efetiva.
A propósito, traduções também têm efeito relativamente limitado. Sei bem que a tentação de procurar algum ponto de apoio para não se sentir afogando no novo idioma é muito grande. Mas como dito, muitas vezes você já tem o conhecimento necessário para presumir, ou no mínimo chegar intuitivamente a uma ideia próxima do conceito novo apresentado, sem ter de necessariamente recorrer desesperadamente ao dicionário mais próximo ou ao tradutor automático. Assim, se você já conhece por exemplo a palavra laufen (andar/correr), consegue entender se aproximar da definição de verlaufen (sair do caminho / perder-se) e de ablaufen (partir / sair). Você pode perceber que essas 2 palavras têm uma conexão direta de sentido com a original. E mesmo que não entenda de primeira o sentido exato delas; pela repetição desse mesmo conceito nos textos, gradualmente você vai se aproximando de uma noção mais clara do seu significado.
Que tal um exemplo mais prático? Então aqui vai: imagine que você está aprendendo a palavra “terminar” em alemão. Ao ser apresentado o conceito em aula, você vai aprender que beenden tem esse sentido.
À medida em que se vai aprofundando nos estudos, aprendemos novas palavras que também apontam aproximadamente para o mesmo conceito: Schluss, aufhören, vorbei etc.
Percebe-se que vamos vinculando tudo o que se aprendeu de novo a essa mesma estrutura central, confortável por já se conhecer seu significado.
No entanto, ao aprender alemão em alemão mesmo, vamos criando novas conexões, e esse gatilho de ressignificação do mundo se torna mais natural e menos mecânico.
Quando se retira esse anteparo do apoio na língua materna, a associação feita entre as palavras se torna muito mais ágil, e numa eventual situação em que se esqueça uma dessa palavras, temos logo outras surgindo na nossa mente para completar a mensagem, e isso de forma instantânea. Têm-se uma rede neuronal muito mais complexa com sinapses mais rápidas
Então, da próxima vez que você for aprender, tente manter em mente que um certo nível de desconforto e até de um tipo bom de estresse é benéfico para o aprendizado, e não devemos temer essa sensação de impasse ou de dificuldade em se comunicar pontualmente, mas enfrentá-la de peito aberto, pois é esse o momento em que o real aprendizado se dá. Afinal de contas não estamos somente enxertando ou transplantando uma língua na outra, estamos aprendendo todo um modo novo de pensar, entendendo uma nova forma de visão do mundo, para enfim, nós mesmos podermos fazer parte dele!
Toda a equipe DEKRA agradece o apoio do professor Pedro França pelo tempo e trabalho nos conteúdos aqui desenvolvidos <3